má língua:
aquela que se porta bem
na minha boca
Bénédicte Houart, Vida: Variações (Livros Cotovia)
sábado, 31 de maio de 2008
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Madrid
Foi um segundo round que quase começou por nem ser. No aeroporto, pouco passava das oito da manhã, a senhora do check-in recolhe os nossos quatro B.I.s e pergunta:
"Quem é a menina.................?"
E eu, de voz sumida, a achar já ai-que-é-desta-ela-leu-ali-uma informação-qualquer-e-vem-já-aí-a-polícia-deter-me-para-interrogatório, respondi:
"Sou eu, porquê? (o 'porquê' ainda mais sumido)
"É que a menina não viaja hoje."
O B.I. caducado. Caducado há sete dias, e eu que nem tinha olhado para ele senão para dizer: "Olha eu aqui tão jovem na fotografia." Parva, parva, parva.
Melhor mesmo só outra amiga na mesma situação, e a voz da senhora do check-in novamente:
"E quem é a menina.....................? A menina também não vai viajar hoje."
B.I. também caducado. Não há sete dias mas há três - três - meses.
E de repente já não éramos quatro miúdas a caminho de Madrid para um fim-de-semana prolongado, mas duas com bilhete para Madrid e duas a fazer a maratona para ir a casa e voltar com passaporte (esse sim, só caduca em 2010, uff).
No meio disto tudo, consegui ao menos fazer algo com que sempre sonhei, que foi atirar com as malas para dentro de um táxi e pôr um ar espavorido e aflito para dizer
"Temos de ir a este sítio e voltar em trinta minutos!"
(para a próxima será o "Siga aquele carro!")
E consegui. Perante os nervos do taxista, que cobrou a bandeirada mesmo antes de chegarmos só para ganhar tempo, a atirar as moedas para cima do banco, e que se despediu de mim com um "tudo de bom" tão sentido como se eu estivesse de partida para os jogos olímpicos, consegui. Nos últimos três minutos, mas consegui. E Madrid, que quase não esteve para ser, lá se concretizou.
Por lá, foi uma cidade que não me convenceu à primeira (apesar do Prado) a tentar convencer-me desta vez: pequenos-almoços com tostadas de manteiga e doce, à espanhola; a Calle Fuencarral loja sim loja sim; as tapas da Lateral; Juan, o príncipe das Astúrias, no bar com o pior escoamento de fumo do mundo; um mocca blanco no Starbucks todos os dias; o Retiro e aquele jardim só de rosas; a t-shirt do Banksy no Rastro (e a molha que apanhámos logo a seguir); a Calle Alcala feita de trás para a frente e de frente para trás porque a nossa querida anfitriã se enganou no número da porta em cem números; e, finalmente, o regresso a Lisboa. Sem contra-relógios desta vez.
"Quem é a menina.................?"
E eu, de voz sumida, a achar já ai-que-é-desta-ela-leu-ali-uma informação-qualquer-e-vem-já-aí-a-polícia-deter-me-para-interrogatório, respondi:
"Sou eu, porquê? (o 'porquê' ainda mais sumido)
"É que a menina não viaja hoje."
O B.I. caducado. Caducado há sete dias, e eu que nem tinha olhado para ele senão para dizer: "Olha eu aqui tão jovem na fotografia." Parva, parva, parva.
Melhor mesmo só outra amiga na mesma situação, e a voz da senhora do check-in novamente:
"E quem é a menina.....................? A menina também não vai viajar hoje."
B.I. também caducado. Não há sete dias mas há três - três - meses.
E de repente já não éramos quatro miúdas a caminho de Madrid para um fim-de-semana prolongado, mas duas com bilhete para Madrid e duas a fazer a maratona para ir a casa e voltar com passaporte (esse sim, só caduca em 2010, uff).
No meio disto tudo, consegui ao menos fazer algo com que sempre sonhei, que foi atirar com as malas para dentro de um táxi e pôr um ar espavorido e aflito para dizer
"Temos de ir a este sítio e voltar em trinta minutos!"
(para a próxima será o "Siga aquele carro!")
E consegui. Perante os nervos do taxista, que cobrou a bandeirada mesmo antes de chegarmos só para ganhar tempo, a atirar as moedas para cima do banco, e que se despediu de mim com um "tudo de bom" tão sentido como se eu estivesse de partida para os jogos olímpicos, consegui. Nos últimos três minutos, mas consegui. E Madrid, que quase não esteve para ser, lá se concretizou.
Por lá, foi uma cidade que não me convenceu à primeira (apesar do Prado) a tentar convencer-me desta vez: pequenos-almoços com tostadas de manteiga e doce, à espanhola; a Calle Fuencarral loja sim loja sim; as tapas da Lateral; Juan, o príncipe das Astúrias, no bar com o pior escoamento de fumo do mundo; um mocca blanco no Starbucks todos os dias; o Retiro e aquele jardim só de rosas; a t-shirt do Banksy no Rastro (e a molha que apanhámos logo a seguir); a Calle Alcala feita de trás para a frente e de frente para trás porque a nossa querida anfitriã se enganou no número da porta em cem números; e, finalmente, o regresso a Lisboa. Sem contra-relógios desta vez.
terça-feira, 27 de maio de 2008
terça-feira, 20 de maio de 2008
Tiradas mágicas e sorrisos amarelos
Gostava de saber o que é que vem a seguir a um sorriso amarelo, mas não sei. Pura e simplesmente não sei o que fazer ou como reagir quando ouço a piada mais seca do mundo. Pior, quando ouço a mesma piada todas as semanas, e ela não tem graça nenhuma.
À sexta-feira, já sei. Se vou comprar o jornal ao pé do trabalho, já sei o que me espera. Chego ao quiosque, peço o Público, preparo-me para agarrar na carteira e tirar as moedas, quando o senhor do estaminé dá ares de que está à procura do preço no cimo da página e diz:
Ora beeeeeeeem. Como é para si - e só porque é para si, hein? - é um euro e trinta e cinco.
Exactamente o preço que lá está marcado. E é isto sempre. Sempre sempre que lá vou.
Nesta última sexta-feira então foi irreal. Já estava eu com a cara número 42, a pedir a todos os santinhos que ele não se saísse com aquela , que-eu-já-tenho-um-dia-difícil-porque-sexta-é-dia-de-fecho-e-esta-é-a-minha-hora-de-almoço-e-passo-bem-sem-pretendentes-a-comediantes-sem-graça-nenhuma, quando a criatura não só se sai com a mesma de sempre
Ora beeeeeeeem. Como é para si - e só porque é para si, hein? - é um euro e trinta e cinco
como ainda há alguém, que só pode ser alguém com muito pouca sorte na vida, que diz:
Epá, você é um mãos largas.
Por isso é que eu digo que não sei - não sei - o que é que vem a seguir ao sorriso amarelo. Não me sai nada, nem uma ideia genial nem uma tirada ainda mais mágica para resposta.
Como há bocado: ligo para um restaurante indiano, a perguntar se têm take away e como é que funciona, e quando pergunto se posso encomendar tudo o que está na ementa, o senhor indiano lá do outro lado da linha responde:
Sim, se quiser até me pode encomendar a mim.
E eu, claro, o que é que eu fiz? Respondi: "Haaaaaa haaaaaaa..."
Que é a versão telefónica do sorriso amarelo.
Pois.
À sexta-feira, já sei. Se vou comprar o jornal ao pé do trabalho, já sei o que me espera. Chego ao quiosque, peço o Público, preparo-me para agarrar na carteira e tirar as moedas, quando o senhor do estaminé dá ares de que está à procura do preço no cimo da página e diz:
Ora beeeeeeeem. Como é para si - e só porque é para si, hein? - é um euro e trinta e cinco.
Exactamente o preço que lá está marcado. E é isto sempre. Sempre sempre que lá vou.
Nesta última sexta-feira então foi irreal. Já estava eu com a cara número 42, a pedir a todos os santinhos que ele não se saísse com aquela , que-eu-já-tenho-um-dia-difícil-porque-sexta-é-dia-de-fecho-e-esta-é-a-minha-hora-de-almoço-e-passo-bem-sem-pretendentes-a-comediantes-sem-graça-nenhuma, quando a criatura não só se sai com a mesma de sempre
Ora beeeeeeeem. Como é para si - e só porque é para si, hein? - é um euro e trinta e cinco
como ainda há alguém, que só pode ser alguém com muito pouca sorte na vida, que diz:
Epá, você é um mãos largas.
Por isso é que eu digo que não sei - não sei - o que é que vem a seguir ao sorriso amarelo. Não me sai nada, nem uma ideia genial nem uma tirada ainda mais mágica para resposta.
Como há bocado: ligo para um restaurante indiano, a perguntar se têm take away e como é que funciona, e quando pergunto se posso encomendar tudo o que está na ementa, o senhor indiano lá do outro lado da linha responde:
Sim, se quiser até me pode encomendar a mim.
E eu, claro, o que é que eu fiz? Respondi: "Haaaaaa haaaaaaa..."
Que é a versão telefónica do sorriso amarelo.
Pois.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Um dia
Eu vinha contente, vinha com um brilhozinho nos olhos dizer que voltei a acreditar em finais felizes, e em pessoas que não nos dão um estalo na cara quando menos esperamos. Eu vinha quase cantarolante, leve, positiva, toda eu rouxinóis a cantar só porque uma amiga é a pessoa mais feliz do mundo por causa de um homem que até o pequeno-almoço lhe leva à cama.
Eu vinha fazer um elogio ao amor mesmo sem ter nada a ver com isso. Como esperei um dia, já não venho. Um dia basta para alguém que conhecemos e de quem gostamos ser magoado a valer.
Infelizmente.
Eu vinha fazer um elogio ao amor mesmo sem ter nada a ver com isso. Como esperei um dia, já não venho. Um dia basta para alguém que conhecemos e de quem gostamos ser magoado a valer.
Infelizmente.
sábado, 17 de maio de 2008
Uma dúvida
Se ele não me vê quando não está comigo, será que consegue perceber que a minha cara se ilumina quando ele aparece?
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Depois do primeiro cabelo branco...
... é sempre a descer.
Comprei hoje as minhas primeiras lentes de contacto.
Comprei hoje as minhas primeiras lentes de contacto.
Bombons
Todo o dia como o dia lá fora: cinzenta, triste, a remoer cá dentro uma desilusão que não é de agora mas que me magoa como se fosse (sei lidar com desilusões de amores, de trabalho, não sei lidar com desilusões de amigos). À minha volta, outras pessoas tristes, mais tristes do que eu. E uma gritaria que todos ouvimos vezes e vezes sem conta mas que não devia ser connosco.
Para compor o dia e o estado de espírito, os The National nos ouvidos em repeat, o menino a cantar
"Sometimes you get up and bake a cake or something,
Sometimes you stay in bed.
Sometimes you go la di da di da di da da
Til your eyes roll back into your head"
(e eu já sei que amanhã vou "la di da di da da", assobiar para o lado como se nada fosse, ignorar o que não me apetece resolver).
Ao chegar a casa, uma bela caixa de bombons embrulhada com um laço. E de repente o meu dia menos como o dia lá fora. Truuuuufas!
Agarrei numa mais bonita do que as outras, em chocolate branco, redonda como um berlinde e polvilhada com um açúcar brilhante. E antes que me pudesse sequer deliciar com o chocolate a derreter, zás, explodiu-se a trufa bonita na boca, cheia de um licor mais amargo que óleo de fígado de bacalhau e tão alcoólico que acho que se me fizerem agora o teste do balão, acusa.
Tenho medo de voltar à caixa e escolher outro bombom. Porque afinal os chocolates são como a vida real: tão bonitos, com tantas promessas, e explodem quando menos esperamos. Amargos que sei lá.
Para compor o dia e o estado de espírito, os The National nos ouvidos em repeat, o menino a cantar
"Sometimes you get up and bake a cake or something,
Sometimes you stay in bed.
Sometimes you go la di da di da di da da
Til your eyes roll back into your head"
(e eu já sei que amanhã vou "la di da di da da", assobiar para o lado como se nada fosse, ignorar o que não me apetece resolver).
Ao chegar a casa, uma bela caixa de bombons embrulhada com um laço. E de repente o meu dia menos como o dia lá fora. Truuuuufas!
Agarrei numa mais bonita do que as outras, em chocolate branco, redonda como um berlinde e polvilhada com um açúcar brilhante. E antes que me pudesse sequer deliciar com o chocolate a derreter, zás, explodiu-se a trufa bonita na boca, cheia de um licor mais amargo que óleo de fígado de bacalhau e tão alcoólico que acho que se me fizerem agora o teste do balão, acusa.
Tenho medo de voltar à caixa e escolher outro bombom. Porque afinal os chocolates são como a vida real: tão bonitos, com tantas promessas, e explodem quando menos esperamos. Amargos que sei lá.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Eu bem digo...
... que sou uma pessoa que não está bem.
No outro dia deixei passar a estação de metro em que devia ter saído, e nem a vi.
Hoje acabei de atirar uma T-shirt da Carhartt pela conduta do lixo.
No outro dia deixei passar a estação de metro em que devia ter saído, e nem a vi.
Hoje acabei de atirar uma T-shirt da Carhartt pela conduta do lixo.
terça-feira, 6 de maio de 2008
De fininho
"Love creeps up on you. She puts her hands over your eyes and asks you to guess who she is."*
Hoje, a folhear a agenda, dei com esta frase. Escrevi-a no momento em que a ouvi. Porque esta ideia de o amor chegar de fininho e fazer connosco o jogo infantil de pôr as mãos em cima dos olhos e pedir para adivinhar quem é, é uma imagem muito muito bonita.
Mas eu pergunto-me... Esse chegar de fininho é suposto ser assim tão de fininho e tão devagar que não há maneira de dar por ele?
* roubado a Presumption, dos Third Angel
Hoje, a folhear a agenda, dei com esta frase. Escrevi-a no momento em que a ouvi. Porque esta ideia de o amor chegar de fininho e fazer connosco o jogo infantil de pôr as mãos em cima dos olhos e pedir para adivinhar quem é, é uma imagem muito muito bonita.
Mas eu pergunto-me... Esse chegar de fininho é suposto ser assim tão de fininho e tão devagar que não há maneira de dar por ele?
* roubado a Presumption, dos Third Angel
domingo, 4 de maio de 2008
Antes de ter nascido
A propósito dos 40 anos do Maio de 68, o Público foi a seis faculdades saber se os estudantes sabiam o que tinha sido o Maio de 68. Em 309, 60% não sabiam, sendo que a diferença era abissal entre os que pertenciam a faculdades de ciências sociais e humanas (75% sabiam o que era) e os que pertenciam a universidades técnicas (70% não sabiam). Tirando as várias pérolas que os jornalistas ouviram e transcrevem sobre o que foi a revolta de 68 – “o primeiro ano em que se comemorou o 1º de Maio” (!) ou “foi quando o Marcello Caetano subiu ao poder e se discutiram subsídios, férias e políticas de habitação” (!!!) – houve uma aluna do Técnico que se saiu com esta:
“Em 68 ainda não tinha nascido, como é que querem que saiba?”
Oh, claro, que parvoíce de pergunta. Para quê estudar milhares de anos de História se aconteceram antes de termos nascido? Qual o interesse, se aconteceu há 30, 40, 600 anos? Queimem-se já os manuais. Faça-se outra revolução cultural.
“Em 68 ainda não tinha nascido, como é que querem que saiba?”
Oh, claro, que parvoíce de pergunta. Para quê estudar milhares de anos de História se aconteceram antes de termos nascido? Qual o interesse, se aconteceu há 30, 40, 600 anos? Queimem-se já os manuais. Faça-se outra revolução cultural.
Acasos e probabilidades
Fiz as contas por alto, e as probabilidades que eu tinha de o encontrar naquele dia eram de 3%. Três para cem. Ou seja, ínfimas. Mas encontrei-o naquele dia. Mal o vi, mas encontrei-o. Era ele e era real, e de repente percebi que tinha saudades. Outra vez. Já as tinha há uns meses, depois obriguei-me a deixar de ter, agora era como quase tudo o que me deixa triste: não pensava nisso. Mas ele passar por mim e tornar reais as hipóteses tão ínfimas que tínhamos de nos ver, relembrou-me que tinha saudades. E agora é pior, porque não só as tenho novamente como tenho mais do que tinha nessa altura.
Veio-me parar no outro dia à secretária um livro que diz que o acaso comanda as nossas vidas. Não o li nem sei como o autor defende essa tese, mas à partida estou de acordo. Todas as merdinhas e mais alguma condicionam a nossa vida. São tão ou mais importantes do que as nossas escolhas, embora inconscientes. Como por exemplo nesse dia: se eu não tivesse parado no semáforo xis por ir a mais de 50, se não tivesse parado para pôr gasolina, se não tivesse ido até ao miradouro olhar para o boneco durante os minutos precisos em que o fiz (e etc), nunca me tinha cruzado com ele naquele ponto em que me cruzei, talvez nem o tivesse visto e não me tivesse lembrado dele desta maneira. Não acredito em destino (acredito na p*** da ironia, é no que acredito!), mas estes acasos deixam-me sempre a pensar.
Desde sempre que tenho uns “pressentimentos” – não sei bem como lhes chamar –, umas sensações esquisitas. Antes de o meu avô morrer, tinha 9 anos, andei numa tristeza profunda motivada por razão nenhuma. Nunca a tinha sentido e, quando a voltei a sentir, outra pessoa morreu. Quando um ex-namorado que era namorado na altura e era muito importante, teve um acidente grave na auto-estrada, sem fazer sequer a mínima ideia que ele estava na estrada, ao mesmo tempo e a quilómetros de distância comecei-me a queixar de dores horríveis nas costas, ao ponto de ter de me levantar da cadeira de um restaurante por já não aguentar mais. Um restaurante onde já tinha ido e onde voltei mais tarde, e onde me sentei nas mesmas cadeiras sem problemas nenhuns. Foi o mesmo ontem: contra todas as probabilidades, no fundo também achava que o podia encontrar. É esquisito, não faz sentido, mete um bocadinho de medo e é ridículo, mas é verdade.
Há coisas na minha vida que não vivi mas que encaro com tranquilidade, porque sei que vou viver mais cedo ou mais tarde. Simplesmente sei que sim e nem duvido. (até agora tem acontecido sempre da maneira como penso, sim.) Ele, o das improbabilidades estatísticas, ele é a minha grande incógnita. Talvez por haver tão poucas hipóteses de o encontrar, talvez por não o conhecer o suficiente para me desiludir e descobrir coisas que me irritem ou características incompatíveis. Só sei que, nos cinco minutos que ele demorou a responder à minha mensagem, a confirmar se era ele ou não que tinha passado por mim de carro, senti aquela sensação idiota que sobe pelo peito acima, que me dá vontade de ouvir música aos berros e que me faz pensar que nunca mais vou precisar de dormir na vida. Durou cinco minutos. Não devia sequer ter surgido. Porque é que surgiu? Também não consigo dizer. Acho que gostarmos de alguém acaba por ser muito fruto do acaso também, no sentido em que é quase irracional (podemos enumerar uma serie de razões para gostar de alguém, do género ‘gosto dele porque, porque e porque’, mas no fim resume-se tudo a um ‘gosto dele porque sim).
Mas agora pergunto-me: se aparentemente é tão fácil, num dia igual aos outros, de repente sentir um turbilhão assim, onde é que essa sensação anda nos outros dias?
Veio-me parar no outro dia à secretária um livro que diz que o acaso comanda as nossas vidas. Não o li nem sei como o autor defende essa tese, mas à partida estou de acordo. Todas as merdinhas e mais alguma condicionam a nossa vida. São tão ou mais importantes do que as nossas escolhas, embora inconscientes. Como por exemplo nesse dia: se eu não tivesse parado no semáforo xis por ir a mais de 50, se não tivesse parado para pôr gasolina, se não tivesse ido até ao miradouro olhar para o boneco durante os minutos precisos em que o fiz (e etc), nunca me tinha cruzado com ele naquele ponto em que me cruzei, talvez nem o tivesse visto e não me tivesse lembrado dele desta maneira. Não acredito em destino (acredito na p*** da ironia, é no que acredito!), mas estes acasos deixam-me sempre a pensar.
Desde sempre que tenho uns “pressentimentos” – não sei bem como lhes chamar –, umas sensações esquisitas. Antes de o meu avô morrer, tinha 9 anos, andei numa tristeza profunda motivada por razão nenhuma. Nunca a tinha sentido e, quando a voltei a sentir, outra pessoa morreu. Quando um ex-namorado que era namorado na altura e era muito importante, teve um acidente grave na auto-estrada, sem fazer sequer a mínima ideia que ele estava na estrada, ao mesmo tempo e a quilómetros de distância comecei-me a queixar de dores horríveis nas costas, ao ponto de ter de me levantar da cadeira de um restaurante por já não aguentar mais. Um restaurante onde já tinha ido e onde voltei mais tarde, e onde me sentei nas mesmas cadeiras sem problemas nenhuns. Foi o mesmo ontem: contra todas as probabilidades, no fundo também achava que o podia encontrar. É esquisito, não faz sentido, mete um bocadinho de medo e é ridículo, mas é verdade.
Há coisas na minha vida que não vivi mas que encaro com tranquilidade, porque sei que vou viver mais cedo ou mais tarde. Simplesmente sei que sim e nem duvido. (até agora tem acontecido sempre da maneira como penso, sim.) Ele, o das improbabilidades estatísticas, ele é a minha grande incógnita. Talvez por haver tão poucas hipóteses de o encontrar, talvez por não o conhecer o suficiente para me desiludir e descobrir coisas que me irritem ou características incompatíveis. Só sei que, nos cinco minutos que ele demorou a responder à minha mensagem, a confirmar se era ele ou não que tinha passado por mim de carro, senti aquela sensação idiota que sobe pelo peito acima, que me dá vontade de ouvir música aos berros e que me faz pensar que nunca mais vou precisar de dormir na vida. Durou cinco minutos. Não devia sequer ter surgido. Porque é que surgiu? Também não consigo dizer. Acho que gostarmos de alguém acaba por ser muito fruto do acaso também, no sentido em que é quase irracional (podemos enumerar uma serie de razões para gostar de alguém, do género ‘gosto dele porque, porque e porque’, mas no fim resume-se tudo a um ‘gosto dele porque sim).
Mas agora pergunto-me: se aparentemente é tão fácil, num dia igual aos outros, de repente sentir um turbilhão assim, onde é que essa sensação anda nos outros dias?
sexta-feira, 2 de maio de 2008
One song for the ride
Directamente saída do novo álbum dos Disco Ensemble, uma banda finlandesa que veio cá tocar há uns anos e me deixou de queixo caído.
Truliru, até breve.
Pus cinco livros na mala...
...E cerca de 15 revistas também. Eu sei que só tenho quatro dias livres, que vou já aqui para o lado e que também quero passar tempo na conversa ou a não fazer nenhum. Mas sabe bem pensar que vou ter tempo e cabeça para ler cinco livros e 15 revistas, e hoje anoitecer na melhor pizzaria da Ericeira (é o que dizem) à conversa com um amigo.
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