terça-feira, 30 de junho de 2009

A Pina Bausch morreu

Há notícias assim, que nos fazem parar na nossa vida a trezentos à hora e que nos deixam com a necessidade de escrever depois de um longo silêncio. Há notícias assim, só acreditamos nelas quando as dizemos alto ou quando as escrevemos com as nossas palavras. A Pina Bausch morreu. A Pina Bausch morreu. A Pina Bausch morreu. A rainha da dança europeia, a mulher que pôs a alma feminina em palco (e a masculina, e a de toda a gente também), a coreógrafa que percebeu o que o teatro podia dar à dança e o que podiam ser juntos, desapareceu. Não haverá novas criações, não haverá novas surpresas vindas desse lado, porque a Pina Bausch morreu.
Lembro-me de quando escrevi um artigo de fundo sobre ela, toda a gente que a conhecia falou daquela aura pessoal de mistério, que talvez fosse antes de mais timidez, ou reserva. Lembro-me que toda a gente se atabalhoava um pouco na hora de dizer quais eram as suas grandes qualidades, o que só podia ser um sinal da genialidade que ela merecia. Lembro-me, antes de tudo, de a ver dançar em Café Müller, a única peça onde ela entrava (porque de resto ficava sempre nos bastidores), e que no ano passado regressou ao São Luiz. Pina parecia um fantasma, sempre pareceu, muito magra e com o cabelo escorrido até ao fundo das costas. Mas nessa peça em particular, essa fantasmagoria era ainda maior porque ela surgia de braços estendidos, vestida com uma camisa de dormir branca, como se fosse sonâmbula. Lembro-me de pensar nessa altura que o Café Müller era o local mais triste do mundo. Lembro-me que fiquei triste, desolada depois de ver o espectáculo, apesar de na rua estar uma tarde bonita de calor e de o Chiado continuar com a sua vida boémia de sempre.
Nos últimos anos, estava tudo muito mais luminoso, falou-se de uma nova alegria nas peças de Pina Bausch. No Mazurka Fogo, a peça inspirada em Lisboa, a festa que foi quando os bailarinos recriaram o B.Leza em menos de nada. E agora lembro-me do Nelken, e daquele momento em que um bailarino faz o "The Man I Love" em linguagem gestual, tão irónico e comovente ao mesmo tempo. E as músicas que eu descobri por causa das coreografias dela. E... e.. e...
A Pina Bausch morreu.
Escrevi isto tudo e ainda não acredito.