terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Trinta anos

O meu irmão faz trinta anos depois de amanhã. O meu irmão tem mais quatro anos do que eu, e eu ainda me lembro de quando lhe entrava pela sala de aula dentro, ele já na primária com cadernos a sério e letras e números a sério e eu ainda de bata do infantário, e dizia alto e bom som: “Tenho chichi, leva-me à casa de banho”, para gozo dos colegas e enorme vergonha dele.
Ainda me lembro de quando andei à pancada com uma namorada dele, na colónia de férias, porque ela era uma parva e ele merecia muito melhor. (acabei no chão, ao lado da mesa de matraquilhos com um joelho esfolado e o orgulho ainda pior).
Ainda me lembro quando uma castanha assada lhe rebentou nas mãos e ele ficou com as migalhas todas coladas aos óculos e eu ri-me às gargalhadas quando ele os tirou e ficou com dois espaços brancos todos limpos e o resto de cara cheio de papa.
Ainda me lembro das primeiras noites em que saí, e de ele me ir buscar – à falta de um pai que o fizesse – à porta do rockline, com olhos de sono mas sem se queixar.
Lembro-me dos segredos que me guardou e dos ralhetes que me deu.
Lembro-me de andarmos a apanhar ondas na praia, e ainda hoje sei que não tenho medo do mar porque o mar sempre foi uma brincadeira de crianças.
Lembro-me que ele me roubava o MEU colchão das tartarugas ninja.
Lembro-me que ali pelos 12, 13 anos, ele era completamente insuportável.
Lembro-me das paralíticas nos braços e nas pernas, e das dentadas que eu lhe dava em resposta, já que quase nem me conseguia mexer.
Lembro-me do Castelo do He-man e de discutirmos por causa dos GI Joe.
Lembro-me que não percebia porque é que eu havia de brincar com os Transformers dele e ele não havia de brincar com as minhas Barbies.
Lembro-me de quando ficámos fechados na rua, de pijama, só porque queríamos ver os Thundercats e com a pressa nos esquecemos da chave dentro de casa.
Lembro-me da fase filosófica que lhe deu (também insuportável), em que não nos podíamos sentar à mesa sem que ele perguntasse: “Porque é que o jarro se chama jarro? Porque é que a laranja se chama laranja e não jarro? Porque é que o jarro não se chama copo?”, e por aí fora (é fácil de imaginar).
Lembro-me de mil coisas, trinta vezes trinta, vezes trinta, vezes trinta, vezes trinta…

O meu irmão faz trinta anos depois de amanhã. Trinta anos. Mais dezoito desde a fase em que era insuportável. Mais doze desde a altura em que me ia buscar à noite. Mais vinte desde que engolíamos pirolitos na praia...
Porra que o tempo não pára.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Schhhhh

Ando calada. Muito calada. Os meus textos são poucos e têm poucas linhas. No dia-a-dia, falo pouco do meu amor e desta sensação de acordar feliz, adormecer feliz e viver feliz. Eu, que sou toda dos espalhafatos e das certezas e dos sorrisos do tamanho de janelas, ando sossegada, discreta, uma calmaria enorme como se a minha vida não tivesse as faíscas que tem. Se me perguntarem que tal o dia, que tal ando eu, é mais provável que me saia um sussurro
-estou feliz
do que um grito
-ESTOU TÃO FELIZ!
mesmo que cá por dentro esteja tudo aos gritos, mesmo que o tamanho da minha felicidade seja maior do que as maiores maiúsculas do mundo. Ou então por causa disso.
Sim, ando silenciosa porque isto do amor subiu-me mesmo à cabeça, como dez cocktails bebidos de seguida. Estou parva, trôpega e circunspecta porque cá dentro está tudo cheio, está tudo aos gritos, está tudo parvo e peganhento e apaixonado. Até perceber como é que uma coisa destas me foi acontecer, até perceber como é que o meu mundo cinzento ficou cor-de-rosa e vermelho tão de repente, vou ficando assim.

Dia dos Namorados

Não fomos a restaurantes românticos, não fomos ver filmes românticos. Fomos jantar ao Alegro e ver molduras e candeeiros no Ikea.
E foi um belo Dia dos Namorados.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009