terça-feira, 29 de maio de 2012

Pronto universo, já falámos

Eu tomei a iniciativa, e depois ele tomou a iniciativa, e com isto tudo lembrei-me como é tão boa aquela sensação de descer a rampa antes do túnel, mesmo no meio do estômago.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

First things first

Telefonema da minha avó lá do lar, com uma voz animada:

Hoje estivemos a jogar Bingo, gostei muito. Depois parámos para ir rezar e cantar. Por mim tinha ficado a jogar mais um bocado.

Havia uma escritora chamada Joana Bértholo

Um dia escreveu um livro chamado Havia e conquistou-me com os seus jogos de palavras, a sua graça, o seu mundo cheio de absurdos... e este conto.


"Havia um Alemão que namorava uma Portuguesa. Ele não falava Português. Ela não falava Alemão. Mas, fora isso, entendiam-se bastante bem.
O Alemão vivia na Alemanha e a Portuguesa vivia em Portugal. O Alemão era criteriosamente dedicado ao seu trabalho, aliás como dizem ser os Alemães. A Portuguesa não tinha dinheiro para viagens, aliás como dizem não ter os Portugueses. Ele não tinha tempo para visitá-la, ela não tinha meios. Fora isso, entendiam-se bastante bem.
O Alemão não apreciava receber cartas, que defendia serem um subproduto cultural obsoleto numa era às portas da extinção do papel. À Portuguesa não lhe agradavam telefones, pois pareciam-lhe aproximações perigosamente fálicas para se encostar à boca. Nenhum dos dois gostava de computadores. Utilizavam-nos somente para efeitos de pesquisa académica (ele) e compras online (ela). Mas apesar de não recorrerem a cartas, telefonemas ou e-mails, entendiam-se bastante bem.
O Alemão não apreciava a comida mediterrânica. Enjoava com o cheiro a azeite e a sua frágil compleição era pouco prestável a qualquer prato que não aqueles que a sua própria mãe cozinhava. A Portuguesa era vegetariana e não consumia álcool, o que excluía desde logo tanto a salsicharia como a cervejaria tão queridas ao povo Alemão. Fora isso, entendiam-se bem.
O Alemão era, como dizem que são os Alemães, de trato distante. Ou “frio”. Como se o clima dos países do Norte os contaminasse para lá da epiderme. A Portuguesa era, por seu lado, barulhenta e fervorosa. Como se o calor nos países a Sul lhes aquecesse o sangue e os tornasse a todos turbulentos. Aparte a altitude sónica dela e a escassez expressiva dele, davam-se mesmo bem.
O Alemão era matinal e acordava com as galinhas. Apesar de ser totalmente urbano e a galinha mais próxima estar frita num KFC. A Portuguesa, por seu turno, vivia para as suas jantaradas, em família ou com amigos, que nunca começavam antes das dez da noite, e se estendiam madrugada fora. No dia seguinte era raro vê-la a pé antes do início da tarde. Mas não era por nunca estarem acordados à mesma altura do dia que se iriam dar pior.
Certo verão, o Alemão foi obrigado a tirar férias. Ainda não tinha gozado qualquer período de férias desde que entrara naquele departamento, e os seus superiores começavam a estranhar. Perguntavam-lhe sobre a FaMíliA, se nÃo peNsaVa CasAr — que já estava Na AltUra (os Alemães usam letras maiúsculas nos sítios mais estranhos). Ele mostrou uma foto da bela Portuguesa, e contou como se davam tão bem. Nunca tinham tido problemas um com o outro. Os seus superiores sugeriram que tirasse férias para a ver, porque havia uma regra qualquer sobre o número de dias de férias, e eles queriam cumprir as regras.
Nesse verão, o Alemão que namorava uma Portuguesa viajou até Portugal. Procurou a Portuguesa nos sítios que lhe pareceram mais apropriados: os anfiteatros, as bibliotecas, mas não lhe ocorreu que era mais provável ela estar na praia, na esplanada, ou ainda a dormir.
Tentou ligar-lhe, mas ela não atendeu. Perguntou aos transeuntes, com a sua foto em punho, se a tinham visto passar.
Mas não, ninguém.

Havia um Alemão que namorava uma Portuguesa. Procurou-a por toda a costa alentejana. Apanhou um escaldão. Ela passava entretanto os seus dias em Aveiro, onde morava. Fora isso, davam-se bastante bem."


Joana Bértholo in "Havia" (Ed. Caminho)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Para desentristecer

E já que faço anos dentro de muito pouco tempo, aqui ficam algumas coisinhas - materiais, as outras deixo para uma outra wishlist - que me podiam fazer feliz.


Vans by Kenzo, acabadinhos de sair e m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o-s neste azul que acho que já tinha dito que é uma das minhas cores preferidas.


















Saia branca, bolsa preta, sandálias e mala neon, tudo Zara























T-shirt Kate Moss x Supreme (é de rapaz, mas um S ou XS há-de ficar bem)





















Bikini e camisola H&M (devo ter uma costela de Miami, porque não posso ver um raio de sol sem ficar com vontade de me encher de palmeiras. Só tenho dúvidas em relação ao cuecão à anos 50, mas enfim, chega uma idade em que temos de começar a tapar a pele e eu já desisti de ter um rabo igual ao da Gisele)




Bonequinho do Rex  para pôr ao pé da minha colecção completa dos filmes da Pixar (o Wall.E e a Eva já tenho).


E para provar que também posso ser uma femme fatale (ou uma Bond girl, vá), o verniz dourado da colecção limitada Hey Sailor, da MAC.




quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um recado do Universo

Sempre que vejo séries ou comédias românticas em que o par principal passa a vida a encontrar-se na rua, nas situações mais inesperadas, dou aquela gargalhada cínica do ah-pois-é-faz-todo-o-sentido-que-numa-cidade-com-milhares-de-pessoas-eles-estejam-exactamente-no-mesmo-sítio-à-mesma-hora-que-lindo-e-tão-pouco-provável. Mas agora, e sem perceber muito bem como, ando sempre a encontrar uma certa pessoa a quem até acho graça, mas que não conheço, nos locais mais improváveis. E em sítios e horas completamente diferentes. Por isso eu pergunto-me: será que o universo me anda a querer dizer alguma coisa?

terça-feira, 15 de maio de 2012

Era uma vez a vida

Hoje, numa entrevista, relembraram-me isto. E que saudades de ver os glóbulos vermelhos a levarem o oxigénio às costas pelas veias fora. Ainda hoje sei que não tenho cáries por causa de um episódio que me ficou gravado na cabeça, em que um dos miúdos comia um doce depois de lavar os dentes, ia para a cama, e assim que adormecia víamos um zoom da boca dele, com aqueles bichos horríveis a darem saltos de contentamento e a furar-lhe os molares com berbequins e martelos pneumáticos. Foi remédio santo: por maior que fosse a preguiça, por minúscula que fosse a bolachinha trincada antes de ir para a cama, nunca me deitei sem estar pelo menos dois minutos a escovar os dentes muito bem escovados, com medo de ter criaturas maléficas como aquelas a passearem-me pela boca. Assim que tiver filhos e eles tiverem idade para perceber as coisas, é o primeiro desenho animado que vão ver..

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Há coisas sobre as quais não sei muito bem escrever…

E não sei escrever sobre lares. Casas de saúde, de repouso, tantos nomes e nenhum que diga o que a ideia me faz sentir. Não sei escrever sobre isso. E acho que não quero. Este sábado a minha avó vai para um, porque já não pode ficar sozinha, e eu queria escrever qualquer coisa sobre o assunto mas não consigo. Escrever ia obrigar-me a pensar muito em muitas coisas em que não quero pensar. Não agora, pelo menos.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Gosto tanto deste tempo

E desta humidade no ar nem se fala. Sobretudo por me dar ao trabalho de estar a esticar o cabelo antes de sair de casa e ficar com uma cabeleira à Michael Bolton assim que ponho os pés na rua.