quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Entre a dor e o nada...

Faulkner escolheu a dor, Godard escolheu o nada. E eu hoje estava a pensar que esta bem pode ser a questão (e a escolha) que resume tudo, sobretudo quando se conhece alguém novo. Há quem não dê confiança a outra pessoa porque tem, à partida, a certeza de que essa pessoa a vai desiludir à primeira oportunidade. Há quem não se apaixone porque perder a cabeça significa espatifar a cabeça, mais cedo ou mais tarde. Há quem tenha mais travões do que um Audi com ABS, e também há quem seja exactamente o contrário, tão impulsivo e imponderado que salta directamente para o precipício. Eu não sei onde é que ando aqui pelo meio: já fui a pessoa do precipício, já espatifei a cabeça, e pelo caminho aprendi a ter as minhas próprias reservas. Mas ainda não fiquei cautelosa (ou devo dizer cínica?), o suficiente para incorporar os travões ABS em toda e qualquer circunstância, ou para ficar indiferente quando alguém me vem com a conversa de que mais vale estar sozinho porque assim ao menos ninguém se magoa. Irrita-me, perco a cabeça, começo logo a desbobinar as mil e uma razões porque pensar assim só faria com que o mundo fosse o sítio mais aborrecido e desenxabido do mundo.
Estratégias, cautelas, manobras, ultimatos, isso é coisa para a Batalha Naval, não para o dia-a-dia. Sobretudo porque, definitivamente, há pessoas que entram na nossa vida que atiram todas as teorias por terra. E ainda bem.

4 comentários:

R.L. disse...

Parece que te estás a convencer a ti própria... ;) Eu também acho que quando as coisas são para acontecer devem acontecer a 100%, sem reservas, intensas. Mas tenho medo. Um medo enorme de me magoar, e tenho consciência que o medo é proporcional àquilo que sentimos. E o medo faz-me ser cautelosa, faz-me preferir contar comigo em 1º lugar e faz-me camuflar algumas coisas, porque parece que quanto mais nos expomos, mais mostramos, mais gostamos, maior é o rídiculo se correr mal.
Mas enfim, este é o meu problema, eu acho que mais tarde ou mais cedo, há-de correr mal.
Tipo prazo de validade.

Emma Bovary disse...

Todos os dias há um novo motivo para achar que estivemos a exagerar durante muito tempo.. Sabe bem!

Alexandra disse...

Adorei. Adorei, adorei, adorei este post. É tão verdadeiro, real e tão adequado a minha situação que nem tenho palavras...
(O comentário não faz sentido nenhum, mas eu também não costumo fazer muito sentido. Enfim...)

Anónimo disse...

Pode doer um bocadinho (ou até mais) no fim de uma relação, mas se não nos atirámos de cabeça em nenhuma altura, se não nos permitimos desligar os travões e ser felizes, mesmo que por um dia (ou uma noite) a paixão perde o sentido, passa a ser uma relação controlada, e isso não é paixão...

Dói, mas vale tudo a pena! (na minha opinião)

Beijinhos
I.