terça-feira, 30 de setembro de 2008
Verdadeiramente estúpido
Procurar alguém no meio de milhares de pessoas pode provocar uma úlcera irreversível no estômago. Mas encontrar esse alguém e não lhe dizer nada, nem uma palavra de jeito, isso é verdadeiramente estúpido.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Mosca
Quando se trata de analisar o potencial de uma relação, tenho a mesma orientação que uma mosca: vou sempre em direcção à luz azul-eléctrico que me há-de-fritar.
domingo, 21 de setembro de 2008
Um dia vou dançar até cair para o lado
Era uma das frases dos pacotinhos de açúcar da Nicola. E em baixo, dizia: "Hoje é o dia."
Eu digo:
Um dia vou dançar até cair para o lado. Até me doerem as pernas e os pés e as nádegas e as costas.
Ontem foi o dia.
Sexta vai ser o dia.
Depois, segunda-feira também vai ser o dia.
E o meu bom humor aumenta 200 por cento.
Eu digo:
Um dia vou dançar até cair para o lado. Até me doerem as pernas e os pés e as nádegas e as costas.
Ontem foi o dia.
Sexta vai ser o dia.
Depois, segunda-feira também vai ser o dia.
E o meu bom humor aumenta 200 por cento.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Como eu escolhi a profissão errada
Quero ir a Nova Iorque, e para ir a Nova Iorque e poder comer pelo menos uma vez num restaurante de jeito, tenho de poupar dinheiro durante oito meses.
O meu dentista vai a Nova Iorque de xis em xis meses... e fica hospedado no hotel decorado pelo Phillipe Starck.
O meu dentista vai a Nova Iorque de xis em xis meses... e fica hospedado no hotel decorado pelo Phillipe Starck.
Velejar
Passaram-se anos e anos sem andar de barco, e de repente, foram sete vezes em quatro meses. Primeiro em trabalho, numa conferência de imprensa entre as duas margens; depois numa festa, com música aos berros e os pés pretos de dançar descalça no cais; depois para viajar entre ilhas ou ir explorar vulcões e mergulhar; e finalmente, para não fazer nada. Andar de barco para não ir a lado nenhum era só o que me faltava. Depois deste último domingo, já não falta. E descobri que andar sem saber para onde se vai, literalmente ao sabor do vento, é M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O.
Saímos pela manhã, no veleiro do Zé, um senhor de 85 anos daqueles que nos fazem pensar "quero envelhecer assim". O Zé tem um barco, o Zé viaja, faz ginástica, conhece a actualidade, compra jornais, é um conversador nato, com o cabelo muito branco e os olhos muito claros, de uma inteligência erudita daquelas de dizer "quem me dera voltar atrás, aos meus 15 anos, mas não saber nada do que sei hoje. Se soubesse, perdia-se tudo, perdia-se a surpresa, perdia-se metade da graça, porque o que é bom é estar sempre a aprender." E o Zé deve achar, de uma maneira muito carinhosa, que os jornalistas são enciclopédias ambulantes ou aspiradores de informação, porque sempre que fala comigo começa as frases por "Você que é jornalista..."
Almoçámos no meio do Tejo: eu, o Zé, o João, que me desafiou, a Joana, que dá aulas de piano, e uma amiga do Zé. Queijo de cabra, salada, salgados, sumo, espumante, batatas frias e a ponte 25 de Abril quase em cima das nossas cabeças. E nem uma brisa para entornar os copos ou provocar enjoos. Perfeito.
O João disse que eu não podia ter tido mais sorte com o primeiro dia de vela: esteve calmo na hora de almoçar, levantou-se vento na hora de querer conhecer outras margens. E eu que antigamente quando olhava para os veleiros quase deitados na água dizia que nunca na vida me ia enfiar numa coisa dessas, lá fui, sentada na proa, feliz, a levar com o vento e o sol na cara... e a agarrar-me com unhas e dentes a todos os cabos que estavam disponíveis. Não fosse o barco dar uma guinada e apanhar-me desprevenida.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Habilidades
"O meu pai ensinou-me a descascar uma laranja em espiral, de modo a que no fim fosse possível voltar a montá-la e a criar uma espécie de ilusão. Não consigo fazer bolhas nem fazer a roda, portanto isto era uma habilidade importante."
Francesca Woodman, 1973
Francesca Woodman, 1973
Florescente
O V., que já foi e ainda é uma espécie de guru profissional, perguntou-me se eu me sinto florescente, e eu não percebi.
Fluorescente? Se brilho no escuro?
Não, se te sentes florescente, a florescer, a evoluir, aprender, disse ele.
Ah, respondi eu. Ri-me e disse que “tem dias.”
Hoje é um dia não. Tem sido uma semana não. Num caso ou noutro, florescente ou fluorescente, não. Estou assim mais para o preto e branco, e não há nada a florejar aqui para os meus lados. Por estes dias, com a motivação com que ando, sou mais uma urtiga.
Fluorescente? Se brilho no escuro?
Não, se te sentes florescente, a florescer, a evoluir, aprender, disse ele.
Ah, respondi eu. Ri-me e disse que “tem dias.”
Hoje é um dia não. Tem sido uma semana não. Num caso ou noutro, florescente ou fluorescente, não. Estou assim mais para o preto e branco, e não há nada a florejar aqui para os meus lados. Por estes dias, com a motivação com que ando, sou mais uma urtiga.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Quando vamos a passar na rua…
…. e um brasileiro diz:
“Nossa, jogo de bola.”
O que é que isso quer dizer?
Que somos parecidas com o Ronaldinho Gaúcho?
“Nossa, jogo de bola.”
O que é que isso quer dizer?
Que somos parecidas com o Ronaldinho Gaúcho?
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Mensagens sub-reptícias
Ontem, a p*** da ironia voltou a atacar. Estava eu com a minha espécie de depressãozinha de final de verão, a maldizer a rotina que volta para se instalar sem compaixão, quando resolvo ligar a música para animar e sacudir as ideias parvas para algum local em parte incerta. Ideia maldita: assim que o ipod se põe a tocar, saltam os Bloc Party e uma baladazinha com uns versos que ficam a ecoar na minha cabeça:
I have decided
At twenty-five
That something must change
“Alguma coisa tem de mudar” é algo que eu já sabia, que não preciso de ouvir da boca de uma música (isto fica muito parvo escrito assim). A questão é esta: tomei uma decisão. Enquanto durar a depressãozinha de final de verão, só ouço música instrumental.
I have decided
At twenty-five
That something must change
“Alguma coisa tem de mudar” é algo que eu já sabia, que não preciso de ouvir da boca de uma música (isto fica muito parvo escrito assim). A questão é esta: tomei uma decisão. Enquanto durar a depressãozinha de final de verão, só ouço música instrumental.
Serei só eu...
… que gosto de conduzir em estradas nacionais?
Apesar dos tractores que vão a 20 quilómetros por hora, e do feno que tapa qualquer visibilidade de ultrapassagem, e dos buracos na estrada, e das curvas a atirar para os precipícios. Apesar dos irritantes semáforos de controlo de velocidade sempre que há uma recta, das lombas mais altas que os pneus, das rotundas enfiadas às três pancadas, das indicações que de repente desaparecem para dar lugar a uma faixa que indica qual é a próxima matança do porco.
Gosto de conduzir em estradas nacionais. Gosto das curvas que não me deixam adormecer. Gosto das tabuletas com os nomes das localidades, e de me imaginar a dizer “moro na Escravilheira” ou “passo férias em Talefe” sem morrer a rir. Gosto dos papelotes coloridos que enfeitam as ruas em tempo de festas. E de haver, em tudo o que é canto, indicações para o recinto da feira, o pão quente e a danceteria. Gosto de ver sempre os mesmos velhotes sentados no mesmo banco na mesma curva (agora tiraram o banco mas eu continuo a olhar para o mesmo sítio e a perguntar-me onde se sentarão agora). Gosto de imaginar as vidas das casas que vão passando. De sintonizar as rádios locais e ouvir os anúncios das clínicas, lojas de calçado e supermercados da região. Gosto até das estátuas dos gnomos que se vêem nos jardins, e dos búzios gigantes colados nas paredes. Pensando bem, o que estas estradas têm de bom nem é o conduzir. No fundo, é o desacelerar. Às vezes, gosto disso.
Apesar dos tractores que vão a 20 quilómetros por hora, e do feno que tapa qualquer visibilidade de ultrapassagem, e dos buracos na estrada, e das curvas a atirar para os precipícios. Apesar dos irritantes semáforos de controlo de velocidade sempre que há uma recta, das lombas mais altas que os pneus, das rotundas enfiadas às três pancadas, das indicações que de repente desaparecem para dar lugar a uma faixa que indica qual é a próxima matança do porco.
Gosto de conduzir em estradas nacionais. Gosto das curvas que não me deixam adormecer. Gosto das tabuletas com os nomes das localidades, e de me imaginar a dizer “moro na Escravilheira” ou “passo férias em Talefe” sem morrer a rir. Gosto dos papelotes coloridos que enfeitam as ruas em tempo de festas. E de haver, em tudo o que é canto, indicações para o recinto da feira, o pão quente e a danceteria. Gosto de ver sempre os mesmos velhotes sentados no mesmo banco na mesma curva (agora tiraram o banco mas eu continuo a olhar para o mesmo sítio e a perguntar-me onde se sentarão agora). Gosto de imaginar as vidas das casas que vão passando. De sintonizar as rádios locais e ouvir os anúncios das clínicas, lojas de calçado e supermercados da região. Gosto até das estátuas dos gnomos que se vêem nos jardins, e dos búzios gigantes colados nas paredes. Pensando bem, o que estas estradas têm de bom nem é o conduzir. No fundo, é o desacelerar. Às vezes, gosto disso.
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