"Ter escrito um romance em que as protagonistas são mulheres-a-dias tem a ver com acreditar nas pessoas. Não acredito num país de doutores, de famosos. Acredito em quem mostra coisa feita. Seja ela qual for. Eu tenho dificuldade em engomar uma camisa, mas qualquer mulher-a-dias sabe fazê-lo. A minha família é enorme. Deste universo, são pouquíssimos os que se licenciaram. E, no entanto, vejo-os a progredirem, a educar os filhos, a encontrar espaços de felicidade que eu, muitas vezes, não consigo atingir com tanta simplicidade. Cultivo determinadas angústias que o comum dos cidadãos não tem paciência nem tempo para cultivar. Em última análise, se eu tivesse um bocadinho mais de mulher-a-dias, estaria melhor. Depois de ler determinados livros que nos vão abrindo os olhos, a vida torna-se mais pesada. Mas depois já não há retorno. A única coisa que podes fazer é contemplar os outros."
em entrevista à Visão, 14 de Agosto de 2008
3 comentários:
Como eu o compreendo... "Cultivo demasiadas angústias que o comum dos cidadãos não tem paciência nem tempo para cultivar". É isso mesmo.
Ah, gostei muito.
Sobretudo de pensar nos livros portugueses mais vendidos que para aí andam... Tudo sobre socialites e quejandos!
Um grande bem haja às pessoas que fazem, de facto, alguma coisa.
Concordo plenamente... se eu soubesse escrever assim podia ter sido eu a escrever isto...
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