quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ser solteira aos 28-a-atirar-para-os-29

As pessoas têm histórias. Bagagem, cicatrizes, tralhas no sótão. Gostam de alguém mas se calhar maldizem por dentro o momento em que não lutaram por outra pessoa. Sonham com grandes conquistas e grandes vitórias pessoais mas se calhar já não se importavam de ser só o tipo que não segura a espada mas leva a bandeira e consegue chegar ao fim da batalha com as duas mãos inteiras e alguns farrapos. Porque cada dia em que se sai à rua é um dia em que se veste um alvo, e baixar a guarda é quase sempre acabar no chão, partir uns dentes, partir uns ossos ou algo que não se vê e é pior ainda. E isto sempre foi algo que me fascinou: a forma como uma pessoa colecciona histórias e desilusões e muda um bocadinho por causa disso, mesmo sem querer. Não falo só de desilusões amorosas, embora ultimamente tenha pensado bastante nisso. Porque acabada de sair de uma relação que teve início – com altos e baixos – quando eu tinha 25 anos, vejo agora que não sou a mesma pessoa – leia-se a mesma solteira – que era nessa altura. Não por não ter a mesma fé, que hei-de ser uma romântica estúpida por mais que me apaixone pelos homens errados e hei-de continuar a ser contra a ideia de fazer uns pagarem pelos erros de outros, mas porque não tenho a mesma ingenuidade. Porque aprendi coisas, porque percebi o que não queria, porque me sinto na obrigação de conseguir algo de muito bom a partir de agora, já que para mau bem me podia contentar com o que já tinha. Mas a grande questão, sei-o agora, é que quanto mais se cresce menos parece possível. Encontrar alguém com as mesmas vontades. Com a capacidade de ter um passado, uma história, várias histórias, mas não ser um traumatizado a caminho dos cuidados intensivos ao mínimo ai. Ou simplesmente alguém livre e com espaço suficiente para viver uma série de primeiras coisas connosco. Porque como se tudo isto não bastasse, ser solteira aos 28-a-atirar-para-os 29 não é só ter de lidar com mais pesos mentais e nódoas negras amorosas. É saber que vai ser sempre pior a partir de agora. E é sobretudo poder conhecer alguém que parece ter tudo a ver connosco, e ainda estar a pensar para dentro “será queee…..” e a dar pulinhos psicológicos de emoção, quando esse alguém tira uma chucha do bolso e fala no filho bebé que tem em casa. Ou da noiva que está mesmo a chegar. Ou da casa que divide com a namorada. Nestes momentos – isto aconteceu-me mesmo, um dia ainda vou perceber que há alguém a comandar isto tudo e que esse alguém resolveu distrair-se do tédio da omnipotência fazendo da minha vida afectiva uma comédia – nestes momentos percebo que já estou mais a andar para os trinta do que para outro lado qualquer. Que isto - casamentos, filhos, casas -, já é o que devo esperar. E palavra de honra que não sei muito bem como, nem quando, é que isto me aconteceu.

24 comentários:

Anónimo disse...

Podia dizer muita coisa. Podia até dizer que isto sou eu. Mas não. Vou apenas dizer que temos a mesma idade. O resto, esse, está lá todo.

MC disse...

Olha...quando me estava a separar (sim porque eu acho que as separações são um processo finalizado por uma decisão...) escrevi isto:

http://orapoiseisto.blogspot.com/2011/03/sinto-me.html

Sei o que sentes, a sério que sei, ainda que cada dor seja diferente mediante quem a sente.

Qualquer coisa, habla :) manda pra fora mulhé... queres vir dançar? HEHE

joana disse...

Leio o blog há algum tempo nunca comentei mas este post...podia ter sido eu a escrever. Com a mesma idade só mudamos numa coisa..eu sou uma solteira aos 28-a-atirar-para-os-29 que tem uma filha. Isso muda tudo numa parte do texto mas como mulher sinto-me igual.
Um beijinho e felicidades.

A. disse...

Tenho 31 anos e deixa-me dizer-te que é possível. Pensava exactamente como tu, aliás, estive solteira aos 27-a-atirar-para-os-28, aos 28-a-atirar-para-os-29 e aos 29-a-atirar-para-os-30 lá continuava... Revi-me completamente neste post, senti-o na pele. Foram 3 anos assim.
Hoje, não trocaria o meu lugar. Nem para ter 25 anos outra vez.

Anónimo disse...

Gostava mesmo muito de poder chegar aqui cheia de moral e dizer que isto é só uma fase, que a minha vizinha do primeiro andar também era assim e depois conheceu o carteiro e bla bla bla mas não vou dizer nada. Tenho 27 e uma mala esburacada que faz com que o que tenha lá dentro sejam apenas trapos esfarrapados que nem servem para fazer patchwork.

"Que isto - casamentos, filhos, casas -, já é o que devo esperar. E palavra de honra que não sei muito bem como, nem quando, é que isto me aconteceu."

F.

Maria Pitufa disse...

Então?? Desculpem lá mas sinceramente não concordo. Encontro-me exactamente na mesma faixa etária e não me parece que "as portas se fechem"...ou que o que seja de esperar seja a noiva a chupeta ou coisa que o valha!! Há muita gente comprometida, há muita gente a descomprometer-se...há muita gente que ainda nem pensou nisso!!
Acho que quanto menos se procura e quando menos se está a espera...acontece. Eu falo por mim.
Ainda que eu seja comprometida e viva com o homem mais sortudo do mundo, recordo-me que quando nos conhecemos eu era a única rapariga do meu grupo da faculdade solteira. Rapazes também já eram poucos. estava tudo comprometido...e numa altura em que eu não esperava nada nem sequer comprometer-me porque estava muito bem sozinha e gostava..pumba aconteceu!! Mas também acho que só aconteceu porque eu estava bem comigo... não ficava triste ou coisa que o valha por estar sozinha..via era o lado positivo da coisa e gostava. Enquanto estava nessa fase nada aconteceu...depois habituei-me, passei a gostar e depois é que veio a reviravolta!! Calma lá que não estamos a falar de uma pessoas com 50 anos que vai começar tudo sozinha. Todas nós somos jovens o suficiente e adultas o suficientes para aprendermos a ver as coisas boas e dar tempo ao tempo!! E vocês nunca ouviram dizer que os 30 são os novos 20? :-)

MC disse...

Ganda Pitufa :D

Anónimo disse...

Não te preocupes! :)

1) não ver em cada homem um potencial principe encantado. Quanto mais procurares, menos vais achar!
2) quando encontrares um potencial principe encantado que preencha os pre requisitos principais, complementar com pequenos testes de paciencia:um homem que nos ame verdadeiramente terá paciencia de Jó para tudo (até para aguentar uns tempinhos sem ...!).
Claro que não se pode abusar: uma ajuda numas mudanças de móveis pesados, uns pequenos consertos e bricolage ligeira, por exemplo. Os homens apaixonados adoram ajudar e resolver problemas práticos.

Um truque: quando o encontrares, finge que não queres casar, nem namorar nem coisa nenhuma. Agarrar-se-á a ti que nem uma lapa.
Uma das minhas melhores amigas não queria MESMO NADA casar nem namorar e calhavam-lhe SEMPRE uns pretendentes espectaculares. a serio, ahaha!!!

...E não tenhas medo de não reparar nele, pois o Mr. Right com a sua paciencia infinita não irá desistir enquanto nao se certificar que tu percebeste que ele chegou :D

Beijinhos,
ines
http://cabelosaovento.blogspot.com/

A. Leya disse...

Quando tu escrevias isto, eu exactamente com a mesma idade escrevia:
"Está um homem à minha frente no metro que me fez perceber que eu quero casa, contra tudo o que sempre afirmei até aqui. A diferença é que terá de ser com alguém que preencha vários pré-requisitos. Serei demasiado exigente?"

chinfrim disse...

Percebo o assustador da situação, mas quando me vi solteira (e nas circunstâncias em que foi) não desesperei em relação a isso. A vida dá tantas voltas, há carradas de gente a casar e a descasar, há tantos homens no mundo, mais velhos, mais novos, com filhos, sem... who cares? Concordo plenamente com a Maria Pitufa! Vive um dia de cada vez. O futuro ainda não chegou e não adianta naaaada stressar com isso. Hoje, como te sentes? Mal? Faz algo para mudar isso, come um chocolate, vê uma comédia, pensa numa coisa que te fez rir muito. E amanhã faz esta pergunta a ti própria outra vez.. e mima-te outra vez. Até ao dia em que já gostas tanto dos teus próprios mimos que puff, nem reparas que tens O Tal à tua frente. E a coisa dá-se :)

Ana disse...

Também sou uma solteiro com 28-assustadoramente-perto-dos-29! E realmente estamos numa fase em que colocamos tudo em prespectiva!!!!

Muxy-Muxy disse...

Depois, um dia, que ainda não vês mas que inexoravelmente se aproxima tu és a noiva que tira a chupeta esquecida do filho no momento em que encantas alguém. Caminhamos sempre para o encontro e é essa inevitabilidade da condição humana que faz com que exista o momento certo e a pessoa certa. Depois podia discorrer sobre as tuas qualidades imensas e sobre a tuas beleza mas não vale a pena. A tendência genética para o encontro faz de nós a espécie que somos. Parecendo redutor o que escrevo é, para mim, a descrição da qualidade maior que transportamos. Um beijinho grande.

juliette disse...

Muito obrigada Muxy por me teres lido tão bem e teres as palavras certas. Um grande beijinho para ti também.

disse...

Pior é sê-lo aos 31 a caminho dos 32 lool Todas as certezas e incertezas vão nos perseguir o resto das nossas vidas porque o mal está na sociedade que se gerou. Criaram-se verdadeiros "monstros" tanto masculinos como femininos que se estão a borrifar para os valores morais, em que nós (verdadeiras princesas) ainda tentamos e acreditamos no PAI NATAL. Depois de anos a pensar no que estaria de errado comigo, finalmente cheguei à conclusão que o MUNDO está todo errado lol e agora vivo para mim mesma, ciente das ENOOOOOOOrMES dificuldades de voltar a encontrar esse fugidio AMOR***

cata disse...

Meninas, têm de ter calma!!! eu, nos meus 20's, também andava sempre, repito, SEMPRE, atrás dos homens errados. Até que um belo dia, com 27-a-atirar-para-os-28, quando era a última solteira, quando já não conhecia mais nenhum solteiro, conheci uma pessoa que era completamente diferente dos outros. Sabem onde estava a diferença? Ele não era original! Não tinha a mania que era o melhor! Não estava interessado em ser o centro do mundo! Queria que eu fosse o centro do mundo dele! Apostei numa relação completamente diferente das anteriores e guess what? Casámos e temos filhos. Não é um conto de fadas todos os dias, mas não o trocava por nada!
Quero com isto dizer que não devemos limitar-nos pelas nossas próprias ideias pré-concebidas!
O principe encantado anda aí, pode aparecer nos locais mais improváveis, na pessoa mais improvável!
Até lá, vivam a vida! Aproveitem as "bemfeitorias" da solteirice: sermos a única a desarrumar a casa, escolher restô's, destinos de férias, datas das férias, filmes sem ter de conciliar o gosto de ninguém. Gastar dinheiro sem prestar contas. Não ter de levar com os amigos "dele" e restante bagagem!
Juliette, j'aime bien ton blogue ;)
bisous
cata
http://longoriotranquilo.blogspot.com/

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Tenho 29 a atirar para os 30. Tenho as cicatrizes e as nódoas negras. Também não sei como me aconteceu. E enquando dos outros já esparo que tenham a bagagem composta por filhos, casas partilhadas e sei lá mais o quê, a mim parece-me que fico mais (muitos) anos de lado de cá. A lamber feridas. E também não sei como me aconteceram algumas das coisas que me aconteceram. Um beijo para ti

Miss Pippa disse...

Tenho exactamente a tua idade e passei por uma separação exacta/ na mesma altura.
Também não sei como isto aconteceu.
Ainda ontem estava a organizar o meu casamento e a preparar umas férias "comemorativas" do 10º aniversário de namoro.
O que me aconteceu foi tão duro, mas tão que me terá mudado para sempre.
E já não acredito muito nos " para sempre", "amo-te" ou até no "Queres casar comigo?"
Já não acredito no Mr Right, mas quero acreditar que um dia "ele" vai deixar de ocupar este espaço gigante no meu coração e nas minhas memórias. E quando esse dia chegar, se chegar, eu vou conseguir encontrar alguém que me fará mesmo feliz. Para sempre? Talvez.

hug * disse...

confesso... passei por aqui hoje e os meus olhos vidraram nas tuas palavras...que belas palavras...
poderia dizer que compreendo-te perfeitamente... mas não compreendo...
poderia dizer que isso vai passar... mas não posso pois não percebo nada do futuro...
poderia dizer que caminhamos na mesma estrada... mas não posso, pois ainda não te vi...
poderia dizer-te Juliette que o meu nome é Romeu... mas não posso, estaria a mentir a quem tanta sinceridade me transmitiu.
as minhas palavras são tão poucas para te preencher.

hugs

Unknown disse...

Tropecei neste blog e li algo que podia ser meu, que podia ser eu...
E pensar que sou só eu! Mas somos tantas com os mesmos desejos, medos, ânsias...
Acho que a VIDA nos ensina a viver um dia de cada vez...and thank God for our blogs ;)

www.princesadaselvaurbana.blogspot.com

Só Sedas disse...

Ó juliette acabei de descobrir este blogue e percebi tão bem o texto! Sendo uma solteira com 27 a chegar aos 28, concordo com tudo excepto com uma coisa: eu acredito que embora cresçamos, continua a ser possível. Pensa bem, se tu és uma mulher de 28 anos que teve as suas experiências passadas e tem os seus sonhos futuros e é "normal", porque é que não há-de haver um homem nas mesmas condições que tu? Acho que com a idade a única coisa que joga contra nós é o ficarmos mais inflexíveis e por isso ser mais dificil engrenar numa relação mas isso também só depende de nós e do nosso bom senso.

Beijinho!

Anónimo disse...

não posso deixar de comentar! tenho 30 a atirar para os 31, oh GOD, e desde os 28 solteira. Enfim, tb não sei muito bem como vim parar a este estado, nem o que fazer com este estado, nem se espero sentada, de pé, se me hei-de encostar à janela a ver a chuva ou se hei-de ir dançar e rir, não sei se desespero ou se espero, se troço ou se me arranco os cabelos brancos, se canto para espantar os meus males, mas eles não fogem, estão como lapas agarrados ao meu coração. E apesar de eu reclamar que todos eles são traumatizados, que todos eles só falam das exs, no fundo eu sou capaz de ser a mais traumatizada....o amor dos 30 é assim, diferente do dos 21, demora a evoluir, precisamente pelo background de cada um...

Unknown disse...

Este teu post da panos para mangas… Levanta tantas questoes na minha cabeca que nem sei por onde comecar. Tambem estou a passer pelo mesmo. Separacao aos 27, juntos desde os 22. Mudamos de pais juntos, compramos casa e agora cada um para seu lado. E enquanto te escrevo estas palavras, acabo por “cair em mim” e realizar que grande parte da culpa foi minha (para alem do facto de ele ser um autentico atrasado emocional). Dei prioridade a todo o resto, menos ao amor. Mudei de pais com a pessoa que no fundo, no fundo sabia que nao era o homem da minha vida, porque nao queria “morrer” em Portugal. Compramos casa juntos, porque queria ter o meu apartamento, entre tantas outras coisas…

Anónimo disse...

Como te compreendo... Tenho 32 acabados de fazer e há 3 anos que estou sozinha...são muitas as vezes em que me sinto frustrada e revoltada com a vida... tenho conhecido outros homens, mas parece-me tão difícil encontrar alguém que queira amar e ser amado... só encontro "Dom Juan's" que só querem engates e umas noites divertidas...
Cada vez mais oiço as tais conversas de casamento e filhos... o pessoal à minha volta que são só casais... O tempo passa e eu sinto-me estagnada, esquecida e sem sorte de ter alguém... e o meu sonho de ser mãe, cada vez se torna mais tardio.... beijinhos e muita força

CC disse...

Só descobri o blog hoje. Porque é que não me falaram disto antes?! Adoro ;)
Obrigada*