segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Despojos de guerra

Tenho saudades do tempo em que acabar um namoro era arrancar fotografias das paredes do quarto, apagar mensagens do telemóvel, chorar muito e guardar todas as cartas, cartões e CDs gravados numa caixa, no fundo da gaveta. Agora, acabar um namoro com alguém com quem se vive (e com quem até se comprou uma casa) é tirar fotografias das molduras, apagar mensagens do telemóvel e guardar as cartas no fundo da gaveta, mas também fazer contas, ir assinar papéis ao notário, dividir móveis e quadros e talheres, pôr um anel onde estava a aliança de namoro, para não se ver a marca e não se sentir a falta de qualquer coisa em que mexer quando um texto vai a meio e a inspiração não há maneira de chegar, abrir outra conta no banco, fazer mais uma transferência, mudar o contrato da água e da electricidade, ir ao banco mais uma vez e começar a pensar como é que se vai encher as prateleiras e as paredes que vão ficar vazias quando tudo acabar de sair. É suposto ser esta a diferença entre ser-se adulto ou adolescente. Mas de repente, a mim só me parece que o amor se torna tão maduro e tão crescido que passa a ser muito menos apaixonado e mais como uma espécie de contrato que expirou, mais um número no meio de tantos outros. É que no meio de tantas contas e de tanta papelada, uma pessoa quase se esquece daquela parte de chorar muito e jurar que nunca mais vai querer saber de um ser humano à face da terra. Ou então sou só eu, que sou como aqueles cães pastores que estão felizes enquanto tiverem uma tarefa para fazer mas dão em doidos quando tudo pára e as coisas batem a sério.

21 comentários:

Susana disse...

Eu ia ser um desses cães pastores.

R.L. disse...

Chora se tiveres de chorar. Por vezes a dor não fala pelas lágrimas. Força. Um recomeço é sempre inspirador.

Espiral disse...

É. Tá tudo tão contracto. Nervos.
Eu sou um cão pastor também.

Miguel Bordalo disse...

Muito bom... Eu passo-me com as partilhas. Mas nunca me meti a assinar nada. Ainda... já estive mais longe. Este é no entanto um magnífico texto, para mostrar a quem está a passar por isso, e a quem quer assinar papeis que só dão dores de cabeça burocráticas.

chinfrim disse...

É bom que esse momento ainda não tenha chegado... voltar para uma casa vazia é das sensações mais horríveis que se pode ter. Mas se o fim da relação foi pelo melhor, será até um alívio! E quando tudo acalmar/sarar terás o teu espaço e o teu tempo para começar uma vida nova. Go for it! :*

Aflito disse...

No meio disso tudo a pior merda é mesmo ter usado aliança de namoro! :|

Rita Maria disse...

Nao, o pior de tudo é que se nao choramos na altura depois passa a janela de oportunidade e ainda andamos num estado depressivo morrinhento quinhentos anos depois, mesmo que já nao queiramos saber dele para nada....

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Been there, done that. Arrebita! Beijos

Whitesoul disse...

Quem é que copiou?

http://aminhavidadavaqualquercoisa.blogspot.com/

juliette disse...

Ehhh, realmente as parecenças são mais do que muitas, obrigada pelo aviso. Vou tentar perceber o que se passou uma vez que, claramente, a minha vida actual é demasiado surreal para precisar de ser copiada de alguém.

Whitesoul disse...

eu não gosto muito de queixinhas, mas passo-me pq ultimamente é só blogs da treta a copiar imensos textos. não será plágio, mas caramba, pelo menos dizer que foi inspirado aqui

apessoa disse...

Este post foi tema de conversa no serão lá de casa, tenho uma amiga a passar pela separação, a minha aconteceu muito recentemente (2 anos!?) e tudo se encaixou


Entretanto quis fazer referência à fonte inspiradora mas já não encontrei, obrigada por te acusares e espero que não tenhas tomado como abuso, não era de forma nenhuma a minha intenção

juliette disse...

Preferia só que houvesse referência à inspiração então, no post em questão. Porque obviamente só posso ficar lisonjeada por ter escrito algo que foi tema de conversa entre duas amigas.

apessoa disse...

Claro, vou alterar imediatamente, mais uma vez peço desculpa, mas não tenho intenção nenhuma de copiar ou fazer plágio, cada um com as suas ideias que muitas vezes se cruzam mas há que respeitar. Mais uma vez Parabéns pelo blob e pela forma como escreve

S* disse...

Se isso te ajuda a aliviar e a não chorar... :)

O Ramalhete disse...

quando passar tempo bastante poder-se-á realizar uma transferência bancária para ultrapassar a fase das lágrimas.

Conto de Fadas disse...

É uma complicação... enfim. Boa sorte!

A Grande Pequena disse...

Dizem que o que não nós mata nos torna mais forte... E apesar de ser difícil pensar todos os dias assim, temos que acreditar que dias melhores virão... Virão dias melhores e também piores, dias de euforia e dias de ressaca... Só temos que lutar para que os dias de euforia e os dias Wow e Yupi sejam mais que os outros! Força ;)

A. disse...

Já por "aí" passei. Pouco choro, muita coisa prática a tratar, palavras amargas à mistura... e passado um certo tempo a certeza que foi o melhor que aconteceu. Ao principio custa ver uma casa "vazia", mas depois passa e volta a haver motivos para gargalhadas e sorrisos mesmo que as contas para pagar continuem a ser uma grande treta!!

Maddie disse...

gostei muito :)

agri disse...

Vim dar ao teu blog através de outro, mas estou com a sensação que há uns largos meses já por cá andei...

Tudo o que escreves, também vivi este ano... P*** de vida esta...