domingo, 11 de setembro de 2011

Uma costela existencialista

Sempre tive uma costela existencialista que, como qualquer osso atacado por reumatismo, de vez em quando dá sinal e dói e deixa-me atormentada. Quando era pequena, mais ou menos na altura em que o meu avô morreu, novo, na cama, sem mais nem menos, chegava a ficar acordada noites e noites a fio, com medo de morrer e nunca mais ver a minha família, as minhas amigas, as minhas bonecas a quem tinha inventado um nome e uma letra na escola e tudo, e ver apenas preto, silêncio, e para sempre. Com o passar do tempo, aprendi a fechar os olhos sem medo de nunca mais os abrir e a deixar as reflexões sobre a existência para os livros que me foram enchendo as prateleiras. Já não fico acordada de noite, com medo de morrer, mas não sei o que é pior: se isso, se aquilo que às vezes me relembra que a costela existencialista continua aqui e um dia o reumatismo vai mesmo virar artrose. Não é medo de morrer, que já se sabe que para sempre só vivem os sapos e as princesas das histórias contadas à beira da cama (e o Manoel de Oliveira, vá), mas é medo de não estar a viver a minha vida como devia, de lhe estar a passar ao lado. Porque se há coisa que percebi cedo, sem ter de queimar muitas horas de sono ou as poucas pestanas que tenho a ler calhamaços de Sartre e Camus, é que nestas coisas da vida, só temos mesmo esta. E a grande questão, capaz de meter medo até ao Exterminador Implacável (aquele do segundo filme, que ficava em gelatina e era mesmo assustador), é o que fazemos com ela.

5 comentários:

Carla Santos Alves disse...

ora aí está!

..podes é começar a ler coisas mais levezinhas...e bem dispostinhas, prontos (sem "S")!

Bjs

chinfrim disse...

Identifico-me :)
Mas olha... se achas que algo te está a passar ao lado, "mexe-te", reposiciona-te, ajeita-te para esse lado. Felizmente somos donos das nossas vidas e ainda não é tarde para começar a fazer o que sempre adiámos.

Ana A. disse...

Cara Juliette,
Cada vez me identifico mais com estas questões que escreves.
E digo-te pela experiência que vou observando que a maioria de nós se escraviza a alguma coisa. À prestação de um carro, de uma casa, ao dinheiro que se consegue fazer mensalmente, à política,... Vai dependendo.
Poucos são aqueles que pensam nisto e menos ainda aqueles que arriscam viver. Não sei se por uma questão cultural de termos as nossas coisas e sermjos donos de laguma propriedade material ou se por uma questão de consumismo de termos mais do que o vizinho do lado. A verdade é que a maioria de nós não se realiza nesta vida e muitos também não se proecupam com isso.
Mas depois há os outros, os que não o fazem por falta de oportunidade e os que não o fazem por medo, por não conseguirem trocar o certo pelo incerto ou por não descobrirem exactamente aquilo que querem fazer da sua vida.
E eu gostaria muito de dar o salto para aqueles que se realizam enquanto vivem, mas a verdade é que também não sei muito bem como saltar e sempre fui péssima a Educação física!

Bluebluesky disse...

Acho que todos temos de vez em quando esses "medos" existencialistas. Faz parte da vida, essa tal que temos de aproveitar.

Unknown disse...

Se fizeres bem às pessoas, (acho que) podes ter a certeza que estás a viver a vida como deve ser...