Não é fácil viver com uma pessoa, não é. Percebi isso mais ou menos há dois anos, quando comecei a viver com uma pessoa, a minha pessoa. Não que eu achasse que me ia cair uma alma gémea do céu que quisesse fazer só as mesmas coisas que eu, tivesse exactamente os mesmos hábitos que eu e deixasse tudo no sítio tal e qual como eu idealizo (até porque isso não seria uma alma gémea, seria uma sombra, um enjoo). A questão é: porque é que nunca ninguém nos avisou que o problema não era só a tampa da sanita levantada? Que toda a gente tem manias e que essas manias quase nunca são as mesmas debaixo do mesmo tecto, sobretudo entre homens e mulheres? Nem é que eu me possa queixar da tampa da sanita levantada, porque isso nunca acontece cá em casa. Mas há sempre qualquer coisa que, ao fim de tantos meses e de tantos pedidos, me deixa quase com o olho a tremer de nervoso. O rolo do papel higiénico sempre fora do suporte, e eu estremunhada de manhã a ter de o procurar pela casa de banho fora, com a certeza absoluta de que se inventaram um suporte para o papel higiénico e nós o fomos comprar a condizer com o resto e tudo... é para o ter no suporte. O projector em cima do espelho sempre a apontar para o tecto, e eu a pôr o rímel nos olhos como uma toupeira míope até perceber que a luz está a apontar para as alturas, onde não interessa nada. A televisão sempre a fugir para a Sport tv 1, a Sport tv 2, a Sport tv 3, a Sport tv 4, a Sport tv HD, porque quando não é o Benfica é a Liga inglesa ou a Liga italiana ou a Liga espanhola ou a Liga Europa ou uma taça qualquer daquelas que acontecem todos os fins de semana e-deixa-me-lá-ver-só-um-bocadinho-para-saber-qual-é-o-resultado. O lençol que ao fim de uns minutos parece um guardanapo amarrotado aos pés da cama e não há maneira de puxar quando se está a tiritar de frio. E tanta coisa que me leva a pensar que deviam dar um prémio aos casais que vivem juntos e conseguem continuar a gostar um do outro e a querer construir um futuro juntos.
O mais parvo, no meio desta saga diária, é que quando estou sozinha em casa, deliciada por ter o sofá só para mim, a televisão só para mim, a pior música que me apetecer aos berros, dou por mim aborrecida ao fim de umas horas, durmo mal de noite e sinto a falta de alguma coisa. O que só quer dizer que não é fácil viver com uma pessoa, não é. Mas não é mau de todo.
6 comentários:
Está genial, este texto ;)
E só tem tendência para piorar :(.
Cedências... quando partilhamos algo com alguém temos de ceder um pouco do que somos, para poder criar um nós (:
(já lá vão 4 anos a morar sob o mesmo tecto e sou muito feliz, pelo menos não me posso queixar)
Felicidades *
F.
Lindo! Nem mais...5 anos na rotina! Muito feliz!!
Há dias em que apetece apertar o pescoço ao outro, mas no geral o resto compensa. Muito! E é preciso não esquecer que alguém vê as nossas manias da mesma forma, do outro lado.
Em xeio! Mas em contra-partida...é sempre bom ter alguem para nos aquecer a cama, mudar aquela lampada que de repente lembrou de se fundir, utilizar aquela peça que vem com o carro que se chama macaco, mas que não trás manual de instuções, ligar os cabos da televisão, ou matar aquela aranha que apareceu ao canto da parede...enfim, o que lhes vale é que queremos igualdade de direitos, mas na verdade quando é preciso, não me "importo" que eles sejam do tão afamado "sexo forte" para puder dar azo ao meu comodismo, porque, na verdade, mudar uma lampada não tem ciência nenhuma e uma bela boracha de agua quente tambem nos aquece os pés!
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