quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O balanço do ano

Geralmente não sou pessoa de balanços. Não salto de alegria quando os jornais resolvem passar em revista os 12 meses do ano e não dou por mim a percorrer as páginas da agenda com um ar saudosista e a apontar para os rabiscos que o mais certo é já não conseguir ler por esta altura. Mas este ano, não sei porquê, sinto uma certa necessidade de arrumar o que me aconteceu. Se calhar porque o que me aconteceu foi lixado, para usar uma palavra que nunca uso, e 2011 foi um ano lixado, assim no geral. Mas sobretudo porque foi o ano que começou comigo a achar que tinha tudo mas que acabou comigo a sentar-me uma noite no sofá e a perceber que a minha vida tinha de mudar. Assim, como vemos nos livros e nos filmes, mas na vida real. A chamada epifania, que para mim era só uma palavra cara e passou a ser de facto um sentimento, uma revelação que eu nunca tinha tido assim, desta maneira. Porque 2011 começou por ser o ano de todas as expectativas – um novo desafio no trabalho, um novo passo na relação, uma nova casa – mas acabou por ser o ano em que percebi que não vou ser nova para sempre e que não posso ter para sempre este feitio de deixa andar, penso amanhã nas coisas que me chateiam e deixam triste. De repente, dei por mim com medo de me tornar numa daquelas mulheres que olham para trás aos 50 anos e se arrependem de tudo o que não fizeram na vida e daquela vez em que não saíram porta fora à espera que fosse melhor, uma daquelas mulheres que eu não quero ser. E senti-me assim um bocadinho, aos 28 anos, presa não sei muito bem a quê e a fazer contas e a pensar em papéis e em dinheiro antes de pensar no que é realmente importante. Fazendo um balanço, o tal balanço, acho que a maior lição deste ano foi ter percebido que o medo da solidão pode ser um mau conselheiro e impedir-nos de ver coisas que não queremos ver. Ou então, que o amor é como as plantas e as ervas aromáticas que tenho na varanda – se não se cuidar morre, e é preciso calçar as luvas e ter a coragem de ver que morreu mesmo quando até fizemos tudo para que se mantivesse vivo. O amor que eu tinha morreu em 2011, e acho que isso era suficiente para ter feito deste ano uma bela merda, um fracasso para riscar no calendário. Mas depois houve também o dia igual ao da revelação no sofá, em que de repente acordei e me senti estupidamente orgulhosa de mim própria. E o dia completamente inesperado em que alguém me relembrou que até quando o coração parece uma passa ressequida pode voltar a latejar na cabeça mais alto do que um bombo numa manifestação. Agora sou só eu mas alguma coisa me diz que 2012 é que vai ser.

19 comentários:

Tamborim Zim disse...

E é claro q vai! Feliz 2012. Faz tudo parte, como eu digo, do jardim da nossa humanidade.

Alex Fernandes disse...

Força e coragem para 2012 ;)

O Ramalhete disse...

um ano de mudanças é vantajoso por, de certa forma, nos encaminhar para algo mais próximo do que desejamos.

Pam disse...

E que 2012 te traga tudo de bom!

Susana disse...

Adorei este texto, porque ainda que a tua relação tenha sido mais séria e sejas mais velha, aconteceu-me o mesmo mas com a minha idade. Vou partilhar :)

ohlalali disse...

Gostei muito deste texto. E no fim sorri. Sim, 2012 vai ser melhor. Pensar o contrario e' desistir (e isso e' que nao pode acontecer, nunca.)
Que consigas ser feliz :)

agri disse...

"foi ter percebido que o medo da solidão pode ser um mau conselheiro e impedir-nos de ver coisas que não queremos ver."

Também em 2011 morreu o meu casamento. E acho que, durante alguns meses, foi o medo da solidão que me impediu de saltar, de seguir em frente... Foi um ano lixado, mas não considero que seja um ano para riscar do calendário! Acabou por ser o ano em que percebi que sou muito mais corajosa do que pensava. E sim, estou orgulhosa de mim mesma!

2012 é que vai ser!

Miss Strawberry disse...

Assim o espero. Desejo que 2012 seja o teu ano! (e, já agora, o meu também...)

Elix disse...

Adorei!!!!
Escreves lindamente, consegues colocar em palavras o que nem sempre se consegue explicar....

Conto de Fadas disse...

Vai ser grandioso, vais ver! A seguir a um ano de merda vem sempre um ano bom, aconteceu comigo e acontecerá contigo!

Bravo disse...

Vai ser, pois! E nós sempre aqui para nos darmos força ;)

Espiral disse...

Identifiquei-me muito com este texto. Nem imaginas.

E digo-te o mesmo que os meus amigos mais queridos me têm dito "Este vai ser o teu ano!"

Um beijo muito doce e um abraço fechado

Sofia disse...

Gostei muito do teu texto. Percebo os teus medos e fico muito feliz por ti, por os teres enfrentado.
Que 2012 seja o teu ano!

Leididi disse...

2012 vai ser incrível. E se não for, vai, pelo menos, ser bem melhor do que este. Porque as coisas más já ficaram todas despachadas. Agora é só bom, daqui para a frente.

Cris disse...

2012 vai ser o que cada um de nós fizer dele, e pela tua coragem e determinação, o teu será de certeza espetacular. Um beijo enorme

CMar disse...

Vai ser um grande ano! Com a tua coragem e determinação, vais fazer de 2012 um ano inesquécivel!

nana disse...

Estou assim um bocadinho como tu.
O medo da solidão tem-me impedido de mover, de dizer basta.
Mas agora a resolução para 2012 foi: não passa de hoje.
Não abdico, não desisto de mim.
Muita força e coragem para ti.
E sim, 2012 vai ser um ano em grande!

Calíope disse...

Reconhecer que não resultou e que não foi por falta de empenho da nossa parte é para lá de duro, mas acho que nos faz crescer e nos prepara para outros voos. Eu passei por isso também em 2011. E ainda agora pensava que não quero pessoas medíocres do meu lado! Boa sorte para 2012!

Anónimo disse...

Obrigada.