segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Godard, o meu Godard

Desde a nossa separação que ele não pára de citar o À Bout de Souffle para a frente e para trás, quase cena a cena, exaustivamente. É bom pensar que uma relação possa ter servido ao menos para dar a conhecer um filme tão maravilhoso como esse (uma vez que fui eu que lho mostrei quando ele nem sonhava com cinema francês), mas nesta fase há qualquer coisa de errada. Se eu penso em Godard por estes dias penso já mais à frente, em Le Mépris e no homem que não faz nada para reconquistar a mulher e impedir a decadência do amor. E penso sobretudo na relação excessiva, condenada e de amor-ódio do próprio Godard com a Anna Karina, que toda a gente viu espelhada nesse filme.
Sim, é isso. Amor-ódio é a minha nova expressão preferida.
Mas só até acabar 2009.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Parafusos

Hoje, quando apertar os últimos parafusos da cómoda da casa nova a minha vida sai oficialmente dos sacos de lona do ikea. Demorei um mês a chegar aqui, mas agora (pelo menos teoricamente) quero crer que tudo ficará no seu lugar. E eventualmente que eu própria também vou voltar a encontrar as minhas gavetas e os meus parafusos e o meu lugar.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Eu hoje acordei assim

I... I used to make long speeches to you after you left. I used to talk to you all the time, even though I was alone. I walked around for months talking to you. Now I don't know what to say. It was easier when I just imagined you. I even imagined you talking back to me. We'd have long conversations, the two of us. It was almost like you were there. I could hear you, I could see you, smell you. I could hear your voice. Sometimes your voice would wake me up. It would wake me up in the middle of the night, just like you were in the room with me. Then... it slowly faded. I couldn't picture you anymore. I tried to talk out loud to you like I used to, but there was nothing there. I couldn't hear you. Then... I just gave it up. Everything stopped. You just... disappeared. And now I'm working here. I hear your voice all the time.
Every man has your voice.

(Paris, Texas)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O que eu gostava

Escrevi este texto há cerca de dois meses, mais ou menos quando também escrevi aquele sobre as declarações de amor de todos os dias. Encontrei-o hoje, a limpar o computador de coisas que têm mesmo de desaparecer. Na altura não o publiquei porque não queria que fosse verdade, porque não podia ser verdade. Publico-o agora para me lembrar como era aquela tristeza diferente desta tristeza mas, ainda assim, tristeza. Para me lembrar disto todos os dias. Todos os dias até finalmente perceber que o amor não é tudo e que o amor não pode nada contra alguém que não sabe nem quer aprender a gostar.

O que eu gostava
Gostava de ter coragem para admitir que ando triste. Que há semanas em que me apetece chorar todos os dias. Que às vezes me sinto igual a toda a gente, que não me sinto eu ultimamente, que houve aqui um botão qualquer que se avariou e eu ainda não consegui perceber qual é e não tenho caixa de ferramentas. Gostava de poder pegar no telefone e contar que às vezes soluço como quando era pequena. Que tenho saudades das minhas músicas mas não tenho vontade de as ouvir. Que me sinto cansada e desmotivada mas não há mais nada que eu gostasse de fazer. Gostava de ter coragem para dizer que não me sinto em casa e que apesar de querer construir uma casa demoro tempo a encontrar o meu lugar num lugar diferente do dos últimos 25 anos. Gostava de não sentir que tenho obrigação de parecer feliz todos os dias, que tenho de festejar as datas redondas só porque o calendário diz que sim. Gostava de não estar no meio de sítio nenhum, entre as borboletas e a estabilidade. Gostava de voltar a acreditar. Gostava de sentir que posso ser eu, que posso ter coragem e admitir que ando triste e ninguém vai fugir. Gostava que não se esquecessem das promessas que me fazem e que não se esquecessem de dizer olá de vez em quando. Gostava de ser menos perfeccionista e aliviar um pouco a pressão que ponho sobre mim mesma. Gostava de poder reclamar por a luz estar acesa e isso não fazer de mim uma pessoa chata, apenas presente. Gostava de saltar o Inverno e passar um mês inteiro ao sol. Gostava de conseguir apagar a imagem da minha cadela a morrer, que tanto me tem assombrado nos últimos dias. Gostava de saber o que dizer mais vezes. Gostava que não fosse tão difícil estar de repente com quem me faz falta. Gostava de acreditar que vou voltar a ser optimista. Gostava de ter coragem para admitir que ando triste. Mas se o disser alto passa a ser verdade.

Primeiro pensamento para 2010

Quem fica parado é poste.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Correr

Segundo as interpretações de sonhos que andam aí pela internet, correr tem vários significados. Tanto pode ser sinal de felicidade eterna se a pessoa não encontrar obstáculos pela frente (hmmmm, não me parece), como pode ser um bom presságio, se for em direcção a um objectivo. Ora, como as coisas andam, fico-me pela terceira explicação: "Correr para fugir corresponde a uma derrota futura. Indica também a fuga de uma ansiedade causada por distúrbios que não se conseguem vencer."

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Body parts

Depois de ter perdido a cabeça e o coração, estou prestes a perder o nariz.
Do frio.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Copeland #4

I found your life in grey and white and never thought I'd color it.
And love put up an awful fight.
You never made your peace with it.
So stay where you are. And hold what you love.
And feel what you want. And know all the while.
Don't hurt 'til it's done.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lado B

A Joan as Police Woman escreveu uma canção que se chama "Start of my heart", onde canta sobre alguém que a mudou e que conseguiu acordar-lhe o coração e salvá-la como se ela fosse um origami.
Eu sou o lado B dessa canção. Em vez de start eu sou o end, o off. E a minha folha de papel não deu um origami nenhum nem nada que pudesse ser salvo. Foi passada pela máquina trituradora e só ficaram as tiras. Tiras que vão precisar de muito tempo e vão dar muito trabalho a colar. (Se é que ainda dá para as encontrar e as colar a todas.)

Do livro que estou a ler

"Queria crer que todos tivessem de se estranhar tantas vezes diante do espelho e da vida. Que, para todos, viver também era uma questão de recomeços e recomeços e recomeços. Ou seria uma exclusividade sua? Seria?"

in Suíte Dama da Noite, de Manoela Sawitzki (ed. Cotovia)